Em 2023, a visita de dois navios de guerra iranianos ao porto do Rio de Janeiro gerou desconforto diplomático. As embarcações IRIS Makran e IRIS Dena, autorizadas pela Marinha brasileira, permaneceram no país por cerca de uma semana. O episódio ocorreu em meio a críticas dos Estados Unidos, que pediram ao governo brasileiro que negasse a atracação — sem sucesso.
Com a escalada de tensões geopolíticas em 2025, vídeos e publicações sensacionalistas nas redes sociais passaram a afirmar que os EUA estariam investigando o governo Lula por suposto fornecimento de urânio ao Irã. As alegações se baseiam na presença desses navios, sugerindo que teriam transportado material nuclear a partir do Brasil.
Fatos verificados e desmentidos
Não há qualquer indício ou evidência de que o Brasil tenha fornecido urânio ao Irã, seja para fins pacíficos ou militares. A Polícia Federal chegou a investigar o caso da atracação dos navios, encerrando o inquérito em 2024 sem identificar irregularidades.
Tampouco há investigações formais abertas por parte do governo dos EUA contra o Brasil nesse contexto. Apesar das críticas diplomáticas, não foram apresentados documentos, acusações ou movimentações legais internacionais que confirmem a narrativa dos vídeos virais.
Como funciona o controle do urânio no Brasil
A produção e comercialização de urânio no Brasil são monopólio da União, exercido pelas Indústrias Nucleares do Brasil (INB), e fiscalizado pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). A legislação brasileira proíbe o uso do material para fins bélicos e também veda exportações para países sob sanções internacionais, como o Irã.
Todo o urânio extraído em território nacional tem destinação interna, sendo utilizado para fins energéticos e médicos. O país é signatário do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) e mantém compromisso com o uso pacífico da energia nuclear, sendo sujeito à inspeção internacional.
Histórico das relações Brasil-Irã
Embora o Brasil não mantenha acordos nucleares com o Irã, os dois países já atuaram juntos em iniciativas diplomáticas envolvendo o tema. Um exemplo é o Acordo Tripartite de 2010, firmado entre Brasil, Turquia e Irã, no qual o Brasil mediava uma proposta de envio de urânio iraniano à Turquia para enriquecimento supervisionado pela ONU. No entanto, esse pacto não envolvia fornecimento de urânio brasileiro.