A Operação Militia, que investiga uma milícia suspeita de roubos e extorsões, deflagrada nesta terça-feira (29) em Manaus, revelam detalhes da forma de atuação de policiais civis e militares suspeitos de integrarem o grupo criminoso. Até o momento, três vítimas foram identificadas e oito agentes foram presos. A principal linha de apuração aponta que os alvos eram pessoas com suposto envolvimento com atividades criminosas ou com parentes que estivessem ligados ao crime.
A ação, batizada de Operação Militar, foi deflagrada pelo Ministério Público do Estado do Amazonas (MPAM), em parceria com o Departamento de Repressão ao Crime Organizado (DRCO). Além das prisões, os agentes também cumpriram mandados de busca e apreensão.
De acordo com o promotor Armando Gurgel, as invetsigações deram início no dia 14 de fevereiro deste ano, no bairro Manoa. Na ocasião, uma vítima foi abordada de forma violenta por homens fortemente armados e com equipamentos táticos:
“Dia 14 de fevereiro deste ano houve uma abordagem de pessoal totalmente paramentadas com coletes, balaclavas, armamentos, realizado nas proximidades da rua Professor Manoel Belém, no bairro do Manoa. Essa abordagem aconteceu à luz do dia, foi alvo de filmagens de populares, e foi divulgado na imprensa local. Essa abordagem contou com um Corolla realizando essa abordagem pela parte traseira de um Ônix, onde se encontrava a vítima, e pela parte da frente um veículo S10. Essa vítima foi retirada do Ônix e desapareceu, ficando um bom tempo desaparecida, até o final da tarde, quando ela foi encontrada pela equipe da Rocam na rua Mata-Mata, no Santa Etelvina”, explicou.
A partir desse episódio, o caso passou a ser investigado inicialmente pela Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros (DEHS), e, posteriormente, pelo Ministério Público.
“Foi possível realizar um acompanhamento dessa ocorrência, de outras ocorrências envolvendo essa mesma vítima, já que os criminosos já tinham tentado abordar essa vítima em outro momento para realizar o mesmo tipo de atividade extorsiva, mas não tinham logrado êxito. Uma teria acontecido em dezembro do ano passado e a outra na véspera do dia 14. Durante as investigações, foi possível alcançar uma outra vítima da ação desse criminoso, na verdade um casal, na qual foi subtraído cerca de R$ 300 mil. Nesses dois fatos foram feitos levantamentos e as identificações dos envolvidos. As investigações continuam para alcançar outros participantes da trama criminosa”, disse Gurgel.
Segundo o promotor, o perfil das vítimas era cuidadosamente escolhido pelos policiais: “O perfil das vítimas é normalmente pessoas que eles entendam que têm envolvimento com atividade criminosa ou que tenham parentes que tenham envolvimento. A gente também investiga que esses agentes tinham a ideia de buscar dinheiro, drogas e armas para que eles pudessem angariar e posteriormente converter em alguma vantagem econômica.”
Durante a operação, foram apreendidos 14 pistolas, um revólver, quatro fuzis, sendo um de airsoft, 650 munições, 14 celulares, R$ 10.695 em dinheiro e três veículos.
Ainda segundo o MP, uma das vítimas chegou a ser levada para a casa de um dos policiais suspeitos, o que reforça a hipótese de que o agente exercia liderança dentro do grupo. Uma das vítimas conseguiu fugir e teve o carro alvejado por disparos de arma de fogo.
As prisões foram efetuadas com base em oito mandados preventivos contra policiais militares e um mandado temporário contra um perito da Polícia Civil. Os nomes dos envolvidos não foram divulgados.
“Dentro da criminalidade, os participantes vão fazer a divisão dos recursos. Essas quantias em dinheiro subtraídas das vítimas estão em investigação. Da primeira vítima foi uma quantia de R$ 2 mil; do casal foi R$ 200 mil no primeiro momento, mais R$ 100 mil depois, além de três armas de fogo. Ainda teve pertences como joias, que também foram subtraídos. Esses valores ainda estamos em busca de saber onde eles se encontram e tentar apurar o caminho que esse dinheiro e valores não recuperados tenham seguido, tentar rastrear o máximo, e as investigações continuam sobre isso”, finalizou o promotor Armando Gurgel.
O coronel Klinger Paiva, da Polícia Militar do Amazonas (PM-AM), comentou o caso:
“A Polícia Militar recebe essa operação com muita seriedade. Nós acreditamos que esses policiais que estão envolvidos nessas investigações desses crimes não representam os mais de 8.500 policiais que estão em compromisso com a sociedade de proteger e servir. Se, em determinado momento, eles esqueceram desse juramento, a própria Polícia Militar, em apoio com os órgãos de fiscalização, tem apoiado. Queremos deixar bem claro que a Polícia Militar não compactua com ato ilícito dos seus agentes e está à disposição para que a gente consiga puni-los.”
A PM informou ainda que, com a decretação das prisões preventivas, o material não protegido por segredo de Justiça será encaminhado ao Ministério Público para instauração do inquérito administrativo disciplinar, que poderá levar à punição e até à expulsão dos envolvidos.
Fonte: D24am.