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Brasil coleciona mais erros do que acertos 1 ano após 1º caso de covid

Passado exato um ano desde a confirmação pelo Ministério da Saúde do primeiro diagnóstico de covid-19 no Brasil, a pandemia não poupou regiões ou classes sociais — embora tenha atingido mais força a população pobre. Mais de 10 milhões de pessoas foram infectadas pelo coronavírus, sendo que 250 mil perderam a vida neste período.

O mesmo país que viu ruas desertas em meados de março e abril parecia ter superado a covid-19 nas festas de fim de ano, com praias e eventos lotados de indivíduos sem máscara.

O vírus continuou implacável, avançando com velocidade e sofrendo mutações em meio ao despreparo de muitas autoridades para lidar com a crise e à desinformação propagada nas redes sociais.

Mesmo assim, uma grande parcela da sociedade brasileira se dedicou com seriedade ao combate à pandemia, como profissionais da saúde e cientistas.

Principais erros

Avaliar os erros em momentos de grave crise como este não servem apenas para achar culpados, mas principalmente para evitar que eles se repitam no futuro.

As mudanças de rumo na condução do Ministério da Saúde representam, em boa parte, as dificuldades enfrentadas atualmente pelo país.

Na visão do médico sanitarista, pesquisador da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e ex-ministro da Saúde (2007-2010) José Gomes Temporão, houve um prejuízo para a estratégia de combate à covid-19 quando estados e municípios tiveram que agir maneira descoordenada pela ausência do Ministério da Saúde.

Em um país federativo como o Brasil, quando o ente federal se omite, você fragmenta, é um salve-se quem puder, cada um tenta resolver seu problema da melhor maneira possível. Isso é muito ruim.”

Temporão afirma que a “marca muito forte do SUS” é justamente a discussão e aprovação “de maneira consensual” das políticas entre União, estados e municípios.

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“As pessoas mais pobres, mais vulneráveis, negros, moradores de periferias das grandes cidades e com baixo grau de escolaridade adoecem mais, são mais internados e morrem mais. Está evidenciado em estudos. Não tivemos em nenhum momento uma política que envolvesse economia, saúde, educação, ação social, a questão da alimentação… Faltou uma articulação integrada de todo o governo cujo objetivo principal fosse reduzir o risco de adoecimento e o número de óbitos.”

Negação da gravidade da pandemia

A propagação de ideias equivocadas a respeito da covid-19, da prevenção e de supostos tratamentos agravou o que já estava ruim no Brasil, na avaliação do médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, fundador e ex-diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Ele cita como exemplo mais evidente disso a situação do Amazonas.

“O governo estadual do Amazonas é negacionista e disputou com o prefeito de Manaus. Ali era a pior situação possível, governo estadual e governo municipal não se conversavam, e a rede hospitalar é estadual.”

A situação do Amazonas se tornou um retrato do colapso que a covid-19 pode causar em sistemas de saúde se não houver medidas de contenção do vírus que sejam eficazes, especialmente com o surgimento de uma variante mais transmissível do coronavírus identificada inicialmente em Manaus.

Outro ingrediente perigoso adicionado à pandemia no Brasil foi a defesa, por pessoas que agem sem embasamento científico, de tratamentos e profilaxias que não têm qualquer respaldo de entidades sérias como a OMS (Organização Mundial da Saúde) e a FDA (Agência de Medicamentos e Alimentos dos Estados Unidos), por exemplo.

Na avaliação de Temporão, o fato de o CFM (Conselho Federal de Medicina) ainda dar espaço a “um tal tratamento precoce” encoraja uma parcela da classe médica a continuar defendendo remédios que podem colocar a vida das pessoas ainda mais em risco.

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