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Emilli Marolix é primeira jornalista indígena formada pela UFAM/Parintins

Foto: Eldiney Alcântara

A indígena da etnia Tikuna, Emilli Marolix, 21 anos, entra para história da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Campus Parintins, ao se tornar a primeira jornalista indígena formada pela instituição no município. Nesta segunda-feira, 13, no Instituto de Ciência Sociais, Educação e Zootecnia (ICSEZ/Parintins), ela defendeu o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) “Magüta”, que apresenta os impactos da igreja Evangélica na Aldeia Indígena Tikuna Filadélfia, no Alto Solimões.

 

Emilli saiu da aldeia Filadélfia, no município de Benjamin Constant, aos 17 anos, após ser aprovada no Processo Seletivo do Interior (PSI). O pai dela teve que vender a moto da família para pagar as passagens para Parintins. Mesmo sem conhecer o município, Emilli e a irmã Lilian Marolix, 30 anos, se aventuraram e enfrentaram os obstáculos de uma nova vida. Além das dificuldades financeiras, a indígena conta que também teve que enfrentar o preconceito na cidade e na universidade.

 

Na banca de avaliadores, Emilli foi bastante elogiada, tanto pela aprovação quanto pelo fato de ser pioneira no curso de Jornalismo. “É uma honra enorme ser a primeira indígena aqui da UFAM Parintins a formar no curso de Jornalismo e poder estar representando o meu povo Tikuna e poder mostar o meu trabalho, que foi baseado na minha vivência enquanto indígena Tikuna moradora da minha aldeia. Então, hoje eu me senti muito realizada”, diz emocionada.

 

O professor Gerson André Albuquerque Ferreira, Doutor em Sociedade e Cultura na Amazônia e mestre em Sociologia, orientou o trabalho da acadêmica. O docente afirma que, estatisticamente, o feito de Emilli ainda é um número pequeno, mas que é “uma marca histórica do curso de Jornalismo”. Ele revela que se sente feliz por fazer parte da conquista de uma “mulher indígena que agora pode falar com legitimidade no espaço do jornalismo”. Para ele, a formação de Emilli é uma conquista educacional e política, que marca a vida dele enquanto docente.

 

“Ela representa uma superação pessoal frente as dificuldades do ensino superior, sobretudo para uma indígena que enfrenta além de tudo o preconceito e a discriminação em uma cidade que se diz valorizar os indígenas. Ocorre que essa valorização é extremamente instrumental para dar visibilidade ao evento alegórico. Depois que passa o evento, o indígena é invisibilizado nós seus territórios e periferias urbanas. A defesa da Emily tem a ver com uma ação afirmativa que ecoa dentro do espaço acadêmico o drama das populações indígenas. Serve também para mostrar a importância das cotas afirmativas de permanência dos étnicos nas universidades públicas”, critica o docente.

 

O professor da UFAM/Parintins, Lucas Milhomens, Doutor em Educação, parabenizou a conquista da acadêmica e destacou o mérito dela na conclusão dos estudos. Para ele, a formação de Emili “é um marco histórico muito importante que mostra a relevância da discussão da temática indígena sendo discutida no seio universitário”. Com grande experiência na docência universitária, ele afirma que “os indígenas enfrentam muitas dificuldades para entrarem e permanecerem na instituição”.

 

“A gente precisa avançar muito ainda nesse sentido. A UFAM, praticamente, tem uma política muito limitada de aceso e permanência de estudantes indígenas. Esperamos que nos próximos anos isso vá mudando, a partir da demanda dos próprios indígenas em participar das decisões, das discussões e das formulações sobre a temática indígena na universidade”, ressalta Milhomens.

Foto: Eldiney Alcântara

Mangüta

Mangüta, no idioma Tikuna, quer dizer “povo pescado”, que é a denominação original do provo Tikuna. Emilli produziu um documentário em vídeo de 30 minutos que mostra o contato da igreja Evangélica com os indígenas Tikuna da aldeia Filadélfia, em Benjamin Constant. O produto audiovisual foi pensado a partir da própria realidade da acadêmica que viu os impactos dessa relação na cultura do povo dela.

 

“A gente procurou a bordar através desse documentário, através dos relatos dos personagens como que a religião evangélica tem impactado e afetado a nossa cultura Tikunaque desde a chegada da igreja evangélica na aldeia as praticas ritualistas, como o ritual da moça nova deixou de ser praticado há 20 anos. Então, foi necessário falar sobre isso no meu documentário. Eu enfrentei dificuldades, porque muitos entrevistados não queriam falar sobre esse assunto delicado”, relata Emilli.

 

Emilli já atuou em veículo de imprensa de Parintins e participa de projetos acadêmicos voltados para a comunicação. Ela afirma que pretende atuar na área e se especializar no campo do Jornalismo para fazer valer sua conquista enquanto mulher indígena. “Ser indígena é ser guerreira, é lutar, porque você nasce já nasce sabendo que você vai ter que enfrentar diversos problemas, por exemplo, descriminação, que eu sofri não só dentro da universidade, mas fora também aqui em Parintins”, destaca.

 

 

*Eldiney Alcântara> REPORTERPARENTINS*

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