Silves e Itapiranga (AM) – Trabalhadores da obra do Azulão 950, considerada uma das maiores usinas de geração de energia a gás do país, denunciam um cenário de verdadeiro abandono humano na região de Silves e Itapiranga, no interior do Amazonas. Segundo os relatos, cerca de 4 mil trabalhadores estão expostos a condições insalubres, com apenas dois médicos atendendo toda a demanda, sem qualquer suporte de exames laboratoriais ou de imagem.
O que mais revolta os trabalhadores é que, além da estrutura precária, os médicos estariam agindo em conivência com as empresas ao acobertar acidentes de trabalho, se recusando a emitir as Comunicações de Acidente de Trabalho (CAT), como manda a legislação. Um ex-trabalhador da empresa Super G relatou que, após ter parte da mão decepada em um acidente, teve o pedido de abertura da CAT negado pelos próprios médicos, que desprezaram sua situação e o maltrataram, numa tentativa clara de blindar as empresas de futuras ações judiciais.
O descaso da equipe médica já custou vidas. Recentemente, uma trabalhadora procurou o ambulatório da obra com sintomas graves, mas foi atendida superficialmente, sem acesso a exames básicos. A equipe teria tratado o caso de forma meramente visual, e a paciente acabou vindo a óbito por não ter recebido o diagnóstico e o tratamento adequado em tempo hábil. A tragédia expôs ainda mais a negligência criminosa que, segundo os trabalhadores, é rotina no canteiro de obras.
A situação se agrava com a confirmação de ao menos dois casos de Mpox (varíola do macaco) entre trabalhadores vindos de outros estados, elevando o risco de surto em Silves e Itapiranga — municípios com sistemas de saúde frágeis e incapazes de conter uma emergência sanitária dessa proporção.
Enquanto vidas são expostas ao risco, as empresas envolvidas, incluindo a ENEVA, permanecem omissas quanto às suas responsabilidades sociais. Nenhuma contrapartida em saúde, educação, infraestrutura, cultura ou lazer foi oferecida às comunidades impactadas, que enfrentam o crescimento desordenado da população flutuante, seguido pelo aumento da criminalidade, furtos, aliciamento de menores e violência sexual, sem qualquer ação concreta das contratadas ou subcontratadas.
Diante desse cenário revoltante, trabalhadores e moradores exigem providências urgentes do Ministério Público do Trabalho, Ministério Público Estadual, CRM-AM, Coren-AM, Vigilância Sanitária de Silves e Itapiranga e da Vigilância Estadual do Amazonas.
O silêncio das autoridades e a omissão das empresas têm custado caro: custado vidas. É hora de agir antes que a tragédia se torne ainda maior.