Purussaurus é conhecido como lagarto do Rio Purus, que viveu na Amazônia há mais de 8 milhões de anos. Seca de 2024 é considerada uma das mais severas da história.
A última descoberta foi durante uma ação de campo, entre os dias 15 e 18 de agosto, no Sítio Cajueiro em Boca do Acre, no Amazonas.
O Rio Purus entra no Brasil pelo Acre no município de Santa Rosa do Purus, a quase 300 km da capital Rio Branco, onde está o Rio Acre, principal bacia do estado — e que na sexta (21) chegou a menor cota já registrada na história, de 1,25 metro.
O pesquisador Edson Guilherme, paleontólogo da Universidade Federal do Acre (Ufac), comandou a expedição. Ele afirmou que e o período de seca está sendo aproveitado para entrar em campo e tentar encontrar novas pistas e fósseis de animais antigos que podem ajudar a revelar parte da história da região.
Histórico e processo de descoberta
Desde 2019, pesquisadores têm explorado uma área localizada em Boca do Acre, no Amazonas. O sítio concentra fósseis, em ótimo estado de preservação, dos principais animais da megafauna amazônica do mioceno, período que vai de 23 milhões a 5 milhões de anos atrás.
“Nós recolhemos o crânio de um quelônio [tipo de tartaruga] que ainda é desconhecido e ainda vai ser estudado e também recebemos o pós crânio de um eremotério [preguiça gigante de até 6 metros] que saiu de uma terra indígena na Região do Purus”, conta Guilherme.
O processo de descoberta conta com o trabalho de muitos pesquisadores até que os fósseis estejam prontos para exposição. Um deles é o biólogo Leonardo Aldrin. Em entrevista à Rede Amazônica, ele explicou como é feito o trabalho em laboratório.
“Primeiro a peça é identificada parcialmente no campo. Depois, os pesquisadores que estão na expedição trazem o material com essa identificação. Primeiro, a gente vê essa identificação, justamente para ver qual estrutura está faltando. Começa a colagem, começa a limpar, tirar os sedimentos, areia, argila, seja, o que quer que seja que esteja incrustado na peça” explicou.
“Na sequência, a gente começa colar ela toda e depois a gente tomba o material, que é como se desse uma identificação para ele. E esse número passa a ser a identidade da peça, com todas as informações”, complementou.
Todo esse processo laboratorial é para garantir que a identificação do animal encontrado não seja perdida. Qual o animal, a localidade onde viveu e a época também são catalogadas nesse momento.
A estudante Isabela Pessoa destaca como o trabalho da paleontologia ajuda a compreender melhor a região amazônica. “Através da paleontologia a gente consegue traçar um caminho evolutivo que todas as espécies que vivem atualmente na Amazônia passaram. Esse trabalho no sítio Cajueiro é muito importante, porque é um sítio pouco explorado, que foi recém descoberto e a partir desse estudo e da preparação desses fósseis, a gente vai conseguir, quem sabe até achar uma novidade para a ciência”, disse ela.
Purussaurus
Podendo chegar a mais de 12 metros, o Purussaurus foi o maior crocodilo que viveu no planeta em qualquer tempo. O primeiro fóssil do animal foi achado em 1892 às margens do Rio Purus e chegou até as mãos do botânico João Barbosa Rodrigues, responsável pelo Museu de Botânica da Amazônia na época do império e também o primeiro a classificar o crocodilo.
O que estudos sobre o Purussaurus brasiliense apontam, que ele seria um parente distante do jacaré-açu. Ele ocupava a Amazônia ocidental e foi o maior crocodilo já registrado em todo o mundo.
A mordida do Purussaurus era duas vezes mais forte que a do Tiranossauro Rex, o mais notório dos dinossauros. O jacaré pré-histórico, segundo as pesquisas, precisava comer uma média de 40 quilos de carne diariamente.
Na Ufac também está guardado mais um fóssil que pode ser do animal. O material foi achado em 2019 pelo pequeno pequeno Robson Cavalcante, que tinha 11 anos na época. O fóssil estava enterrado às margens do Rio Acre, no município de Brasileia, no interior do estado.
Seca histórica
De acordo com o boletim diário da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema), o Rio Acre marcou 67 centímetros em Brasiléia, enquanto o Rio Iaco se manteve em 34 centímetros no município de Sena Madureira, ambos no interior do estado, na última segunda-feira (16).
Os dois rios já haviam batido as menores marcas no domingo (15), quando o Rio Acre ficou em 68 centímetros e o Rio Iaco chegou aos 34 centímetros.
Fonte: G1*