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Estilista amazonense cria roupa usada por primeira-dama para evento sobre a Amazônia, em Nova York

Pertence à etnia Kaixana, Maurício Duarte é quem assina a peça utilizada pela primeira-dama Janja Lula da Silva, 57 anos, que subiu na última semana ao palco da ação global Pororoca

Maurício Duarte foi o criador do traje usado por Janja da Silva na ação global Pororoca (Foto: Divulgação)

 

O estilista indígena amazonense, Maurício Duarte, 28 anos, assina a peça utilizada pela primeira-dama Janja Lula da Silva, 57 anos, que subiu na última semana ao palco da ação global Pororoca, em defesa da Amazônia, com participação de artistas, ativistas e lideranças indígenas, no Central Parque, em Nova Iorque (NYC). As roupas fazem parte da coleção Igarapés, assinada por Duarte e apresentada em 2022 no São Paulo Fashion Week (SPFW).

Em entrevista ao acrítica.com nesta segunda-feira (25), Duarte explicou que a roupa vestida por Janja tem como inspiração a Princesinha dos Solimões (distante 68 quilômetros em linha reta de Manaus).

“A estampa é a vista de GPS (Global Position System) de Manacapuru, cidade em que minha avó nasceu. As linhas em vermelho foram pintadas à mão é representam os rios, e também o sangue indígena, preto, ribeirinho, as forças que continuem nosso Amazonas”, disse.

Duarte pertence à etnia Kaixana e estudou a vida toda em escolas públicas, encontrando professores que sempre o incentivaram mostrando a importância da educação e formação profissional. O estilista também teve o incentivo da mãe que é artesã, e também da própria família que até hoje mora no bairro de Petrópolis, zona Sul de Manaus.

“Como estilista, nortista, indígena, manauara e gay, é uma vitória muito grande furar todas essas bolhas e estar onde o nosso trabalho precisa e merece chegar”.

Foi a própria primeira-dama quem escolheu Maurício para vesti-la no Pororoca em NYC. “Quando fui escolhido veio uma lembrança muito grande de quando comecei a pintar as primeiras peças em Manaus, nas feiras de artesanato, e que os ‘clientes’ eram os meus melhores amigos, me fez lembrar também na importância de acreditarmos nos nossos sonhos, e de lutarmos para fazer com que eles se tornem reais”, disse. “Todos esses espaços precisam saber que ninguém melhor do que nós para falarmos do nosso lugar de origem”, complementou.

A ação desenvolvida no Central Parque americano ocorreu no último dia 20, em paralelo à Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), com o intuito de colocar a Amazônia no foco dos debates internacionais de preservação. O objetivo do trabalho de Maurício na moda vai de encontro com a proposta do evento que é dividir com as pessoas a importância de olhar para a Amazônia com carinho e respeito, assim como preservar a floresta, os povos que nela habitam e também a cultura.

“Se nós somos a continuação dos nossos ancestrais, precisamos ter memórias vivas, mesmo que carreguem o nosso olhar contemporânea. Quero poder fazer com que as pessoas tenham orgulho de ser de Manaus, de saber sobre as suas origens assim como eu tenho! Para mim é uma realização muito grande. Viver de moda, empreender, falar de arte, e ter como principal inspiração do trabalho o Amazonas e todas as nossas vivências, ainda é um desafio”, declarou o estilista.
De acordo com o estilista, a estampa do vestido de Janja é a vista de GPS e Manacapuru, cidade do avó dele (Foto: Divulgação)

Sobre o inspirações, Maurício diz que gosta de “tudo o que é manual e que carregam histórias” como o trabalho do estilista piratapuya, Sioduhi, que une pautas indígenas, feminista e LGBTQIAPN+ em peças agêneros de estilo casual, esportivo e utilitário. O povo Pira-tapuya habita o noroeste do Amazonas, nas bacias dos rios Tiquié y Papuri, nas áreas indígenas do alto e médio Rio Negro.

“Dos últimos desfiles que acompanhei muito me encanta o trabalho do Sioduhi que atualmente faz trabalhos com tingimento natural com a casca de mandioca. A Dendezeiro, marca da Bahia que enaltece diversidade e corpos pretos ocupando todos os lugares. A Isaac Silva também é uma marca que fala da cultura de Matriz África com muita propriedade. Temos muitas marcas brasileiras potentes, que reforçam a força das novas gerações”, declarou. 

Para o estilista dividir o palco de uma ação global com outros indígenas é de uma satisfação imensurável “Acredito que fazer com que um trabalho feito com tanto afeto e que conta tantas histórias, chegue até a nossa primeira-dama para ser vestida em um evento tão especial em New York, no Central Park junto com tantos parentes indígenas, falando da importância de preservar a nossa Amazônia, e poder estar ao vivo vendo tudo isso, não tem preço”, finalizou.

 

Fonte: ACRÍTICA