Falta de chuvas causa transtornos no cultivo de milho, mandioca e melancia. Nível do Rio Acre na capital marcou 1,75 metro nesta segunda (8).

Três meses após a segunda maior cheia do Rio Acre ter destruído várias plantações na zona rural de Rio Branco (AC), produtores enfrentam as consequências do oposto: a falta de chuva. A seca tem atrasado o crescimento das plantações, a exemplo do milho, da macaxeira e da melancia.
Este é o caso do produtor rural Pedro Ferreira, de 57 anos. Ele tem uma propriedade na região do Quixadá, que fica na zona rural da cidade. Em março, quando o nível do manancial chegou a 17,89 metros, as águas destruíram as plantações do agricultor. Agora, a seca atrasou o crescimento e ele acredita que irá aproveitar apenas 40% da produção.
Na capital do Acre, o acumulado de chuvas durante todo mês de junho não passou de 21,1 milímetros. O número representa apenas 34% do total esperado, que era 62 milímetros. Sem chuvas, o nível do Rio Acre na capital marcou 1,75 metro nesta segunda (8).
Entrevistado à época das enchentes, o produtor Pedro Ferreira, que hoje lamenta a estiagem, contou que teria que jogar fora toda a produção e começar de novo.
No final do mês de março deste ano, Ferreira voltou a plantar mandioca, mas sem condições financeiras para garantir o armazenamento de água, o produtor fica à mercê da natureza.
A seca, segundo o produtor, atrasou o crescimento das manivas e raízes. “Acho que vai dar para aproveitar uns 40%, onde a terra estava mais molhada, mais insumos, estava mais fértil. Acho que uns 60% da macaxeira está perdida. O milho foi perda total, a melancia consegui colher 30%”.
Preocupação
Produtor de hortaliças, Romildo Marinho tem conseguido manter a horta produtiva porque na propriedade dele há açudes. Anualmente, mesmo com o nível mais baixo de água, Marinho consegue regar as hortaliças e enfrentar o período de estiagem.
Porém, agora, com o tempo tão seco ele não sabe até quando vai ter água disponível para irrigar as plantações. “A gente tem preocupação porque sabemos que vai faltar água em vários cantos. A gente aqui, dentro da comunidade mesmo, já viu tanques bem baixos de água. E não chegou ainda o período mais seco, ainda vai chegar”, pontuou.
Água para 32 comunidades
A Defesa Civil de Rio Branco já começou a atender as comunidades rurais levando água em carros-pipa. Ao todo, 32 comunidades são abastecidas durante este período de seca. O abastecimento nessas comunidades rurais, que geralmente inicia em julho, teve início no dia 17 de junho.
Ainda segundo o órgão municipal, há, pelo menos, 14 caminhões com capacidade de 6 mil a 18 mil litros de água abastecendo as comunidades.
No dia 28 de junho, o prefeito Tião Bocalom assinou um decreto de emergência em razão do baixo nível do Rio Acre e da falta de chuvas na capital. O documento com as medidas, no entanto, ainda não foi publicado no Diário Oficial do Estado (DOE).
Sem chuvas, o nível do Rio Acre segue abaixo de 2 metros na capital acreana. Ainda segundo o órgão municipal, choveu apenas três vezes na capital acreana durante junho: no dia 21, no dia 26 e no dia 30. O Rio Acre perdeu 85 centímetros de lâmina d’água durante o período.
A Defesa Civil de Rio Branco destacou também que a chuva mais significativa foi no dia 26, quando choveu 19,2 milímetros.
Contingência
O governo do Acre montou um gabinete de crise para discutir e tomar as devidas medidas com redução dos índices de chuvas e dos cursos hídricos, bem como do risco de incêndios florestais. O decreto com a criação deste grupo foi publicado no dia 26 de junho, em edição do Diário Oficial do Estado (DOE), e fica em vigência até dia 31 de dezembro deste ano.
O Acre decretou, no dia 11 de junho, emergência ambiental por causa da redução da quantidade de chuvas e riscos de incêndios florestais. O decreto de nº 11.492 foi publicado no Diário Oficial do Estado (DOE) e é válido para os 22 municípios acreanos.
Prefeitura de Rio Branco decreta emergência devido seca do Rio Acre
O estado também decretou emergência, no dia 11 de junho, com validade até o fim deste ano. O decreto aponta para o baixo índice de chuvas para o período, aumento das temperaturas e queda nos percentuais de umidade relativa do ar, além do alerta para possível desabastecimento.
No ano passado, o decreto de emergência foi publicado em outubro. O coordenador estadual da Defesa Civil, coronel Carlos Batista, disse que o plano estadual de contingenciamento já foi elaborado.
“Toda a estrutura da Defesa Civil Estadual, todo o sistema estadual do órgão está de prontidão. Já temos o nosso plano de contingência elaborado, anexo a esse plano, o plano das 22 coordenadorias municipais de Defesa Civil para o enfrentamento dessas ações”, concluiu.
Seca antecipada
Pouco mais meses após o Rio Acre, em Rio Branco (AC), alcançar a segunda maior cota histórica e atingir mais de 70 mil pessoas com uma enchente devastadora, o manancial passou a ficar abaixo dos 4 metros desde o início de abril.
A situação alerta para a possibilidade de um período de seca que, segundo especialistas, pode se antecipar e se tornar cada vez mais frequente em um menor espaço de tempo.
É preciso entender ainda que as chuvas na região precisam estar dentro da normalidade para o rio poder correr normalmente, o que não está sendo o caso do Rio Acre.
O ano em que o manancial apresentou a menor marca histórica foi em setembro de 2022, quando marcou 1,25 metro. Naquele ano, o rio já estava abaixo dos quatro metros no mês de maio.
O mesmo quadro foi observado em 2016, ano com a segunda pior seca. Em 17 de setembro, o rio atingiu a menor cota histórica da época: 1,30 metro.
Fonte: G1*