Foto: Rudimar Narciso Cipriani/ TG
As espécies de aves da Amazônia costumam ser menores do que em outras regiões do país. Segundo Mario Cohn Raft, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e que há mais de 30 anos estuda aves da região, o motivo é o clima:
“Ser menor no calor é vantagem, ser maior no frio é vantagem”
O bem-te-vi existe no Brasil inteiro, mas os bem-te-vis Amazônia são muito menores do que os bem-te-vis do Sudeste, por exemplo. O bem-te-vi de Minas Gerais, de São Paulo, são monstros comparados ao da Amazônia.
É a mesma espécie, mas o tamanho é diferente em função da relação entre o clima mais frio e a tendência de ser maior, porque aguenta melhor o frio, e ser menor onde é quente.
No entanto, uma pesquisa feita nos últimos 40 anos com 77 espécies de aves que vivem no centro da floresta, ou seja, teoricamente longe da ação humana, mostra que os pássaros já sofrem os efeitos do aquecimento global. Os animais reduziram ainda mais seu tamanho e peso.
O estudo reúne pesquisadores brasileiros e estrangeiros associados ao projeto de dinâmica biológica de fragmentos florestais, do Inpa.
“A conformação das aves está mudando durante o tempo. As condições durante a época seca na floresta, ou seja, entre junho e até dezembro, quando está cada vez ficando mais quente e menos chuvoso, as aves estão acompanhando essas mudanças climáticas”, explicou o pesquisador Philip Stouffer
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As mudanças climáticas transformam a vida das espécies em geral, inclusive da nossa, mas no caso dos pássaros ainda não se sabe o que de fato elas vem causando diretamente para alterar a estrutura desses animais. A certeza é que ao longo dos anos vem afetando também aves emblemáticas da floresta
É o caso do pássaro uirapuru, por exemplo, que tem em média 24 gramas e 12 centímetros. Agora, ele está ainda menor. Segundo a pesquisa, o uirapuru reduziu 6% de seu tamanho em quatro décadas. E nesse período ganhou 2% de asas. O mesmo aconteceu com um terço das espécies estudadas.
“A mudança no clima está afetando as aves nas matas mais remotas, está afetando o nosso dia a dia. É da nossa vantagem diminuir esses efeitos e tentar reverter, mesmo porque o futuro para a gente também não é muito brilhante num clima cada vez mais quente e mais modificado”, diz o pesquisador Mario Cohn Raft.
Fonte: G1 AM